Muito se comentou a respeito da desobrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Alguns pontos devem ser, a meu ver, esclarecidos.
Penso que o ocorrido, ainda que justificado de forma infeliz pelo Sr. Ministro, o qual compara a profissão de jornalista com a de cozinheiro ou costureira – algo como comparar um engenheiro a um torneiro mecânico, foi apenas, e infelizmente, uma oficialização do que já ocorria na prática. Desde a época da faculdade é possível perceber a entrada no mercado de trabalho de estudantes de jornalismo – e por isso, sem diplomas - que entravam como estagiários, mas que na prática atuavam como jornalistas. Situação que se repete, ainda com maior ênfase, na área afim de publicidade.
Infelizmente, a oficialização da situação dificulta a luta daqueles que querem garantir um jornalismo de qualidade que sim, acredito, passa pelo banco de uma faculdade, lugar onde o aluno deve realizar uma reflexão sobre a prática profissional. Exatamente, não é só porque o indivíduo sabe escrever que tem a capacidade de fazer jornalismo, assim não é só porque alguém tem a habilidade de segurar um pincel e lambuzá-lo de tinta que tem a capacidade de pintar um quadro. Aliás, concordo com o colega Alejandro Sepúlveda, jornalista e professor universitário: “se é para se fazer um jornalismo com a qualidade que está aí... é melhor mesmo que não se exija o diploma.”
Acredito que ainda assim, jornalistas com diploma sobressairão no mercado. Claro! O mercado escolhe os mais capacitados e é nisso que o curso de jornalismo trabalha. A capacitação não vem só da aprendizagem em fazer um lead adequado ou a matéria em “pirâmide invertida”, nem em técnicas de entrevistas, mas de uma preparação humana, psicológica e de uma reflexão da importância social e econômica da profissão. Sim, filosofia, sociologia, semiótica, teoria da comunicação são tão importantes quanto técnicas de reportagem e entrevista! Os melhores profissionais, mais capacitados – os que possuem diploma, tomara que eu não morda minha língua – irão ter vaga garantida.
Surge, de qualquer maneira, então uma oportunidade de mercado para os jornalistas profissionais. Ora, se o argumento da classe patronal era que, por exemplo, cada veículo tem o direito de contratar um economista para escrever sobre economia, porque eles, obviamente, entendem mais do assunto do que qualquer outro. Fica a observação que um texto jornalístico (artigo, reportagem, jornalismo investigativo, literário etc) não deve ficar restrito ao assunto abordado e sim deve ser contextualizado, característica que se perde na especialização do economista. E a oportunidade? Bem, se o jornalista está lotado na editoria de economia, que tal ele fazer uma faculdade de economia, para especializar-se no assunto, se gosta esportes, um curso de marketing esportivo ou educação física podem ser um grande diferencial. É o que ocorre com inúmeros engenheiros, médicos, contadores, odontologistas etc que, depois de formados, vão fazer um curso de direito. Seja para adquirir conhecimentos que usem em seu dia-a-dia, seja para lograrem um melhor êxito em concursos públicos...
Se nós jornalistas, apresentarmos um trabalho de qualidade, adequado e condizente com os anos que passamos na faculdade, se os alunos de jornalismo, levarem realmente a sério seu período dentro da academia, com o tempo, verificar-se-á que a qualidade do jornalista profissional sobressairá. O mercado, que quer sempre os melhores (não que ele vá pagar adequadamente por isso... uma outra estória...), acabará por filtrar os bons profissionais, os que realmente oferecerão um trabalho com qualidade diferenciada, não apenas um texto sem erros de ortografia e concordância. Estes bons profissionais, como em toda profissão, terão sua vaga garantida.
que texto bom de ler, concordo plenamente com tudo que vc disse(e tu sabe). Simplesmente adorei suas comparações, acabei me indentificando com elas. Interpretei até, como se o fosse um troco para o infeliz comentário do senhor ministro. Sou tua fã Eugeninho :)
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